O Projeto
Apresentação
Os compromissos do país perante a conservação da diversidade biológica e a crescente valorização dos
recursos biológicos, devido principalmente às novas técnicas de biotecnologia, aumentaram a demanda
por informações sobre a biodiversidade brasileira. A perda de biodiversidade atingiu proporções
alarmantes, e é provável que os valores de extinção de espécies sejam subestimados. É estimado,
assim, que a diversidade de heterópteros aquáticos na Região Neotropical, e principalmente no
Brasil, seja ainda muito pobremente conhecida. Grande parte dessa diversidade está concentrada na
Região Norte do Brasil, na qual houve maior esforço de coleta no passado quando comparado às outras
regiões. Ainda assim, tal esforço não foi eficiente, pois essas coletas foram pontuais, sendo
realizadas apenas próximas aos principais municípios da região e com grandes intervalos de tempo
entre elas. Comparadas a essa região do Brasil, as regiões Sul e Nordeste destacam-se por serem
regiões brasileiras muito mais desprivilegiadas no que concerne ao conhecimento da sua
heteropterofauna dulçaquícola. No Estado do Rio Grande do Sul principalmente, a pequena porção de
mata nativa ainda existente (com cerca de 5% de áreas ainda intactas) compromete muito uma
estimativa razoável da diversidade desses insetos. Aliados a isso, o rápido e o pouco esforço de
coleta no passado tornam essa região uma das mais comprometidas em termos de informação disponível
acerca da sua fauna de heterópteros aquáticos.
A identificação desses insetos em nível de espécie, em trabalhos de ecologia da conservação, é quase
inexistente. Muitos acreditam que correlacionar variáveis ambientais com comunidades possa revelar
importantes características dos ecossistemas, se forem usadas categorias taxonômicas
supra-específicas. Outros deparam-se com a impossibilidade de identificar espécimes fêmeas de muitas
espécies de pequeno porte. Os Belostomatidae apresentam muitos grupos de espécies com representantes
crípticos em termos de morfologia externa, e poucas características morfológicas podem ser
estabelecidas para a sua melhor definição.
Infelizmente, o esforço ainda incipiente para o entendimento da taxonomia de Belostomatidae está
concentrado principalmente na Região Sudeste, onde estão lotados dois dos cinco pesquisadores
especialistas contratados: um na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e outro no Instituto
Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. No norte do país, apenas mais um importante centro de pesquisa, o
Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), possui estudantes que se dedicam ao estudo dos
heterópteros aquáticos, e suas supervisões dependem exclusivamente desses especialistas mencionados
anteriormente. A Universidade Estadual do Mato Grosso (UNEMAT), a Universidade Estadual do Maranhão
(UEMA) e a Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), apesar de centros discretos, já apresentam
figuras importantes no aprimoramento e capacitação de futuros pesquisadores que envolver-se-ão num
estratagema para o conhecimento de uma fauna extremamente mal estudada dessas regiões (o Pantanal e
o Pampa respectivamente). Na América do Sul, além daqueles citados no Brasil, o Museu de La Plata,
no entanto, se destacou por concentrar mão-de-obra responsável pela confecção de alguns trabalhos
recentes sobre a taxonomia dos grupos de espécies de Belostoma Latreille, 1807. Coordenados
no passado pela Dra Ana Lia Estévez (Museo de La Plata, Argentina, in memoriam), alguns
estudos acerca de grupos de espécies de pequeno porte desse gênero foram considerados e tiveram sua
taxonomia estudada.
Este sítio refere-se à uma tentativa de integração daqueles interessados na taxonomia, biologia e
ecologia de Belostomatidae no Brasil. A riqueza da fauna desses insetos no Brasil e a necessidade
prioritária de estudos de levantamento do grupo são conflitantes com o conhecimento ainda incipiente
e com o pequeno número de instituições e pesquisadores dedicados ao seu estudo. A pouca quantidade
de registros dessas espécies em algumas partes do país é, de maneira geral, causada pela
indisposição e ineficiência dos coletores, principalmente aqueles não-especialistas. Os esforços de
coleta são direcionados para grupos com taxonomia mais bem entendida, como Gerromorpha. Assim, ao
problema das coletas no país terem se concentrado em poucas localidades, mencionado anteriormente,
soma-se a tendência de coleta de um maior número de espécimes com maior disponibilidade de
especialistas e taxonomia mais bem compreendida, principalmente por parte daqueles coletores
não-especialistas.
A Ideia e o Objetivo
A criação desse sitio surge da necessidade de preencher uma lacuna no conhecimento científico sobre os indivíduos pertencentes à família Belostomatidae. A escassez de estudos e pesquisas específicas sobre esses indivíduos, aliada ao pouco preparo dos coletores atualmente, motivou a criação desse projeto.
A Pesquisa e Construção
Iniciamos o projeto ao constatar a carência de estudos abrangentes sobre Belostomatidae, tanto em relação à diversidade de espécies quanto à sua taxonomia. Esses insetos, apesar de possuírem um potencial valioso para fornecer informações sobre os ecossistemas aquáticos, são pouco conhecidos e frequentemente negligenciados. Com base nessa constatação, reunimos diversas informações disponíveis em bancos de dados, concentrando-nos especialmente na taxonomia de cada espécie já identificada. Priorizamos a coleta de dados sobre as características morfológicas e a localização geográfica de cada indivíduo.
O Objetivo
Como recomendações, apresentamos nos dois tópicos seguintes, um pouco
do que se considera importante ser despertado com a confecção deste sítio:
(1) Considerando o intenso processo de destruição e fragmentação de hábitats no Brasil, é
desejável que as coletas desses insetos passem a ser efetuadas de forma planejada, de maneira que
as deficiências expostas sejam superadas. Áreas prioritárias para coleta, representando diferentes
tipos de ambientes, devem ser determinadas, e este sítio abordará, no futuro, uma seção destinada
à tentativa de implementação de áreas consideradas importantes em estratégias de conservação
(hot-spots). Os objetivos e técnicas de coleta empregados devem ser abrangentes, de maneira que
espécimes de diferentes gêneros sejam obtidos.
(2) O uso de material proveniente de esforços maiores de coletas já realizados possivelmente
ampliará o conhecimento sobre essa fauna do Brasil, incluindo aspectos acerca de sua taxonomia,
distribuição e biologia. Além disso, pensamos que este projeto em forma de sítio subsidiará a
orientação e auxílio regular a alunos associados a diferentes instituições. Secundariamente,
tornará possível o acesso de não-especialistas ao reconhecimento de espécies dessa fauna pela
elaboração de chaves de identificação com desenhos para os gêneros e espécies registradas.
Quem faz parte
A criação desse projeto foi viabilizada graças ao apoio de diversos
pesquisadores dedicados à família Belostomatidae. Desde os pioneiros que deram início às pesquisas
sobre Belostomatidae no meio científico até o grupo atual, trabalhamos arduamente para dar
continuidade a esse legado e contribuir para o surgimento de novas descobertas.
Nosso grupo atualmente é composto pelos seguintes membros:
Coordenador:
José Ricardo Inacio Ribeiro
Laboratório de Estudos da Biodiversidade do Pampa (LMBC/LEBIP), Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), campus São Gabriel, Rio Grande do Sul, Brasil
Colaboradores:
Felipe Ferraz Figueiredo Moreira
Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil
Julianna Freires Barbosa
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, Brasil
Fabiano Stefanello
Laboratório de Biologia Comparada e Abelhas, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil