A Barata d’água
O que é uma barata d’água?
A família Belostomatidae Leach, 1815 é composta de 11 gêneros com aproximadamente 150 espécies, das
quais, cerca de cem estão representadas no Novo Mundo. Esse grupo é encontrado em quase todo o
mundo, exceto na região ártica, em grande parte da Europa e no nordeste da Ásia. Os componentes
dessa família são vulgarmente conhecidos no Hemisfério Norte como eletric-light bugs, devido ao fato
de serem vistos frequentemente em locais com luz elétrica, para onde são atraídos. Essa família
possui os mais efetivos predadores da infraordem Nepomorpha, apresentando grande importância
econômica, pois seus constituintes são considerados grandes pragas em criadouros de peixes. A maior
parte das espécies desse grupo alimenta-se de quaisquer presas que sejam capazes de capturar, de
larvas de Diptera a anuros adultos, incluindo o curioso caso da predação de um pica-pau. Muitos
Belostomatidae são capazes de liberar substâncias com cheiro repugnante pela região anal,
aparentemente como uma reação defensiva; entretanto, nitidamente esse comportamento não foi
canalizado por seleção natural para esse fim, o que o caracteriza como um caso de exaptação.
Essa família compreende três subfamílias, com base em aspectos da morfologia da genitália masculina
e em uma análise mais crítica de outras características, tais como a condição dos esternitos
abdominais, se divididos por sutura ou não, e o grau de desenvolvimento das garras tarsais do
primeiro par de pernas. A subfamília Belostomatinae é a que apresenta o maior número de gêneros,
nenhum deles cosmopolita. Abedus Stål, 1862 é restrito à região Neártica, México, onde há o
maior
número de representantes, e à América Central. Belostoma Latreille, 1807, o mais
diversificado da
família, ocorre no Novo Mundo, tendo o maior número de representantes na América do Sul. Abedus é
considerado proximamente relacionado a Belostoma, devido a algumas características que
compartilham,
tais como o desenvolvimento alométrico das garras tarsais (a garra externa é vestigial, enquanto que
a interna é muito desenvolvida); o número e o formato dos tubos seminais e o aspecto geral do falo.
Diplonychus Laporte, 1833 e Appasus Amyot & Serville, 1843 distribuem-se pelo
sudeste asiático,
África, Índia e Austrália.
Apesar de serem bastante encontradiços, há a necessidade de uma revisão taxonômica.
Hydrocyrius Spinola, 1850 é restrito ao continente africano e a Madagascar, e pouco se
conhece sobre sua biologia. Limnogeton Mayr, 1853, restrito ao nordeste da África, é,
aparentemente, um predador estrito de caramujos, além de ser o único com espécies que não apresentam
as pernas medianas e posteriores modificadas para natação. Weberiella De Carlo, 1966
constitui-se por uma única espécie: Weberiella rhomboides (Menke, 1965), registrada no Estado do
Amazonas, Brasil. Em Abedus, Appasus, Belostoma, Diplonychus,
Hydrocyrius, Limnogeton e Weberiella, encontra-se uma das características
mais notáveis e raras entre os insetos: os ovos fecundados são depositados pelas fêmeas nos
hemiélitros dos machos. Esse procedimento provavelmente diminui o tempo de incubação dos ovos e
facilita as trocas gasosas, pois facilita a exposição deles ao ar atmosférico, além de serem
extremamente bem protegidos pelos machos.
A subfamília Horvathiniinae, composta apenas por Horvathinia Montandon, 1911, é conhecida
somente no sudeste e no centro-sul da América do Sul e sua biologia é pouco conhecida, a ponto de
não sabermos se as fêmeas depositam seus ovos nos dorsos dos machos, sobre a vegetação aquática, ou
em outro tipo de substrato.
A subfamília Lethocerinae compreende três gêneros: Benacus Stål, 1861, Kirkaldyia
Montandon, 1909 e Lethocerus Mayr, 1853. O gênero Lethocerus ocorre em quase todo
o mundo, sendo melhor representada na região Neotropical. Nessa subfamília, estão os maiores
Belostomatidae, tal como Lethocerus maximus De Carlo, 1938, que atinge 110,0 mm de
comprimento total. Sendo insetos de grande porte e aspecto, para muitos, assustador, criaram-se
mitos acerca de sua periculosidade. Por outro lado, seu tamanho fez com que se tornassem iguarias da
culinária de países como Índia, Tailândia e México.
Os gêneros com espécies registradas no Brasil, portanto, são Belostoma,
Horvathinia, Lethocerus e Weberiella.